Jardim da Aclimação

05/05/2002 | Paulo Bonfim
Enviado por: Maria Elisa Botelho Byington Fonte: Publicado no jornal "Tribuna do Direito". Maio de 2002



Há um século, surgia em terras de Carlos Botelho o Jardim da Aclimação. O antigo Sítio Tapanhoim transformava-se em bairro, que cresceria em torno do lago de águas que ondulavam ao ritmo de remos sonolentos. Ah! a infância deslizando em barcos conduzidos pela paciência do meu pai! E o zoológico que ali existiu, onde fui fotografado, cheio de susto, ao lado de pacato camelo que ruminava lembranças do deserto!

No coreto, pouco a pouco iam emudecendo os dobrados, e as valsas imigravam para os salões de chá do Mappin, da Casa Alemã e da Vienense. Carlos Botelho, filho do Conde do Pinhal, era primo de meu avô materno, Sebastião Lebeis, batizado com o nome do antepassado comum, Sebastião de Arruda Botelho, fidalgo açoriano que veio para Itu em 1654.

Carlos Botelho formou-se em Medicina em Paris e, em 1904, foi secretário da Agricultura. Os serviços por ele prestados à lavoura e à saúde pública são lembrados ainda hoje em várias cidades de São Paulo.

Transplantou de Paris para São Paulo a idéia do "Jardim d'Aclimatacion" do "Bois de Boulogne" e instala no Sítio Tapanhoim granja de leite, parque de diversões e zoológico. O gado leiteiro que manda trazer da Holanda passa por uma aclimatação, que daria nome ao local.

Na década de 30, foi um dos pontos elegantes de São Paulo, com salão de baile e música ao ar livre. Nessa época, o sobrinho de Carlos Botelho, Cândido Botelho, surge com uma das mais belas vozes de nossa terra. Sua esposa Carminha, concertista consagrada, o acompanhava ao piano nos saraus de outrora.

Quando passo pelo Jardim da Aclimação espero ver surgir das águas verdes do lago a imagem do passado, onde um menino molha os dedos no reflexo do barco que singra para 2002, ano do centenário daquele local que ficou encantando na clareira das lembranças.